Uma abordagem fora do comum, e não foi eu quem disse.

Incentivado em escrever mais das minhas coisas e causos por aqui, por um amigo que conheci na rede social, aqui estou na ante véspera de Natal para não passar uma vergonha maior de ter um blog e ficar mais de um ano sem escrever.

Aqui então vai a desse ano, num projeto que começou em 2021 e aconteceu nas primeiras semanas de 2022.

O projeto que parecia simples no primeiro momento foi criando quase que vida própria e virou uma bucha gigante que acabou resultando num resultado incrível no final. Inclusive foi destaque no site da Red Bull Photography com uma entrevista que fiquei sabendo a pouco tempo atras.

A idéia inicial era fazer retratos de atletas durante o Red Bull Athlete Summit, uma espécie de encontro anual entre os atletas Red Bull. Fácil, mas com alguns temperos especiais que acabaram colocando mais emoção e preocupação para executar o projeto.

Então era fácil. Agora vamos aos temperos.

Primeiro ponto: cenários e fundos diferentes

Segundo ponto: clima em ambiente externo no verão/ probabilidade de chuva alta

Terceiro ponto: ser criativo num hotel

Quarto ponto: pouco tempo

Quinto ponto: muitos atletas

Como ainda "respirávamos" a pandemia, uma solução quase que caseira me veio na cabeça, quando repliquei algumas fotos usando a tela do computador como fundo.

Como solucionar isso?

Primeiro ponto: cenários e fundos diferentes - Iria projetar os fundos que eu quisesse

Segundo ponto: clima em ambiente externo no verão/ probabilidade de chuva alta - Fazer em ambiente fechado

Terceiro ponto: ser criativo - Projetando os fundos meus cenários poderiam ser de qualquer lugar do mundo

Quarto ponto: pouco tempo - Ainda não sabia quanto, mas poderia dar certo

Quinto ponto: muitos atletas - Eram por volta de 25 atletas, dava para fazer em uma tarde

Teria que arrumar uma tela enorme, projetar o fundo que eu queria e pronto. Parecia solucionado o problema.

Na minha adolescência trabalhei para meu pai instalando home theaters, com projetores e som e colocando um projetor eu teria a maior tela disponível para deixar de fundo, que na ideia inicial estaria mais desfocado.

Para quem não sabe o trabalho de um fotografo começa com a idéia e depois ir atrás para que aquilo aconteça, ou seja, fazer orçamentos e procurar os equipamentos e tudo mais para viabilizar seu projeto. Entre algumas conversas com a Red Bull consegui o contato de um fornecedor de projetores a laser, um dos melhores disponíveis e com excelente resolução, iluminação e possibilidades de deixar a minha projeção grande o suficiente. Lindo! Esse ponto estava resolvido, mas não teria tempo de ver isso tudo funcionando com antecedência, apenas as vésperas das fotos.

Também queria que os atletas participassem do projeto diretamente, me falando dos lugares dos sonhos deles ou momentos marcantes em suas vidas em que o landscape era incrível, mas as festas de final de ano e falta de tempo jogou essa minha idéia para o ralo. Eu teria que pensar sozinho onde coloca-los.

Todos os equipamentos estavam alugados e contratados e na mesma semana em que aconteceriam as fotos recebi a confirmação da quantidade de atletas e tempo disponível na agenda. O melhor começa agora... 50 atletas (se somaram todos da America Latina) em 3 horas e meia. Surtei. Fazendo uma conta bem rápida:

3h 30 min = 210 minutos

210 min dividido por 50 atletas = 4,20 minutos

Sim eu teria 4 minutos para fazer cada atleta. Que a primeira vista parece viável se tornou um grande desafio que eu só saberia se dava certo quando montasse o "estúdio" com a projeção e fizesse os primeiros testes.

A montagem começou na véspera do dia foto. E a primeira coisa que mudou foi a tela, resolvi projetar diretamente na parede, queria ver aquilo funcionando rápido ganhei algumas preciosas horas naquele momento. A projeção funcionava super bem com uma qualidade absurda, como nunca tinha visto, e então comecei os testes de luz.

Optei em usar a luz continua, com a experiencia que tive com o monitor do computador em casa, assim poderia ver o resultado quase que instantaneamente do que estava fazendo. E aí começou o "problema", quando demorei quase que 5 minutos para acertar a luz na pessoa que equilibrasse com o fundo e ainda não estava perfeito.

Os fundos que eu havia escolhido também dava muita diferença de luz, sendo que não bastava um acerto para todas, teria que fazer um ajuste para cada cenário e era impossível. Nesse momento foi que uma amiga entra no meu estúdio improvisado, era quase 21 horas e pergunta qual era a minha grande ideia, mas mal ela sabia que naquele momento tava tudo quase que perdido. Expliquei e mostrei alguns fundos e testes que havia feito. Em certo momento ela entrou na frente da projeção e vi uma nova solução nascer e explodir na minha cara!

Para bem aí, que temos uma nova foto, muito melhor do que a idéia anterior. Fiz questão de fazer aquela foto com o celular porque era a minha chance de mostrar que daria certo e seria mais incrível ainda, olha a foto abaixo 👇

Depois dessa foto tudo mudou!

Era mais de 22h e a montagem tinha que parar, liguei para a chefa a contando e pedindo carta branca para mudar tudo e fazer as fotos diferente. A foto que acabara de fazer era meu trunfo e argumento para isso. Sim, ela me apoiou com tudo e acabei aquele dia leve e muito ansioso para as fotos finais, faltavam menos de doze horas para colocar toda a ideia em pratica.

Para quem não sabe a vida do fotografo não é só glamour e isso eu sempre faço questão de mostrar na minhas redes sociais. Era mais de meia noite quando me perguntaram da possibilidade de fazer uma visita técnica numa ilha (se tratava do mesmo evento) as 6 da manha, para definir a posição de uma foto. Concordei e o que aconteceu na manha do dia das fotos eu deixo para você assistir abaixo.

Foram quase duas horas a deriva, sim... fiquei a deriva e tive a pior sensação do mundo naqueles infinitos minutos. Não pela foto que tinha que fazer, mas pelo enjoo que ficamos. O mar estava um pouco agitado, então a única solução era ficar dentro d' agua, mas não dava para ficar muito tempo, tínhamos que nadar... quanto tempo você consegue nadar para ficar flutuando? Foi foda. Buscaram nos, mas o enjoo e a tontura tava lá para o resto do dia.

Após uma rápido banho para tirar a agua salgada, foi assim que eu comecei as minhas fotos!

Organizamos uma lista de atletas de acordo com a disponibilidade no momento deles e para não deixar escapar ninguém e um a um eles foram chegando, alguns com seus equipamentos, que eu havia pedido para levar, e outros com cara de interrogação.

Meu maior erro em toda essa ideia e logística foi não ter pensado em registrar tudo isso. Fazer algum tipo de making of seria perfeito mas, só me dei conta disso quando consegui terminar meu trabalho, três horas e meia depois. Sim, consegui cumprir o prazo e enquanto eu fotografava no meu cenário, meu parceiro de trabalho, Bruno Terena, fazia fotos com flash ao meu lado, com o fundo branco para garantir aquela oportunidade única de ter um batalhão de atletas Red Bull no mesmo dia, no mesmo lugar.

Bom, depois que cai em sí que deveria ter feito algo para mostrar, a minha surpresa veio quando vi muitos dos atletas registrando aquele momento, seja por video ou fotos. Consegui salvar alguns e vou mostrar aqui abaixo.

único momento que registrei algo (inconsciente) foi o Terena fazendo a foto dele

fotografando Sandro Dias (skate)

fotogragando Itsa (B-Girl)

com a lenda Carlos Burle (surf)

Felipe Camargo (escalada) fazendo o making of de Felipe Gustavo (skate)

esse não sei de onde veio, mas mostra um pouco do set

Um pouco de fotos regatadas daquele dia

Antes de finalizar, vou colocar o link da entrevista que saiu no site Red Bull Photography contando um pouco de como foi isso tudo de uma forma mais amena, ahhh e foi lá que disseram que foi uma abordagem fora do comum! Criei um espaço dentro do meu site onde foi fazer uma galeria de fotos feitas naquele dia. Vá na aba projetos e veja um pouco do resultado. Obrigado por ler e se interessar pelo meu trabalho e historias.