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Debaixo da terra!

tempo de leitura: aproximadamente 4 minutos

Provavelmente você já deve ter visto as fotos que fiz numa mina de sal com um atleta do mountain bike. Quem vê as imagens não tem idéia do trabalho que um "simples" projeto desse dá.

Como sempre digo, trabalhar com a Red Bull é sempre recompensador. Uma baita empresa que acredita e investe no potêncial de cada um, sendo um atleta, o fotógrafo ou uma idéia maluca, que acaba virando um projeto e por final realidade, resulta em imagens espetáculares.

Comecei esse projeto sem saber muito o que me esperava e nem um nome ele tinha.

Sai de São Paulo rumo a cidade de Bogotá na Colombia de bico calado, sem poder contar muita coisa para os amigos, muito menos fazer postagens em redes sociais. Sem fotos! Difícil para alguem que vive disso, né?

Cheguei um dia antes do começo da ação e passei um dia inteiro num quarto de hotel na cidade de Bogotá. Não pense foi dormindo e sim estudando. Vi e estudei tudo o que podia da Catedral de Sal de Zipaquirá e antes de colocar os pés por lá já sabia o que eu poderia encontrar.

A Catedral de Sal é uma catedral construída no interior das minas de sal de Zipaquirá, na Savana de Bogotá, na Colômbia. É um santuário católico, que faz memória do Via Crucis de Jesus Cristo, é um dos mais célebres do país. A igreja subterrânea faz parte do complexo cultural "Parque do Sal", espaço cultural temático dedicado à mineração, a geologia e os recursos naturais.

Obra, de Carlos Enrique Rodríguez, talhada em mármore situada ao fundo da nave central

Por ser um lugar super procurado e famoso, nosso tempo de "produção" (fotos e video) dentro da mina era totalmente restrito. Ou seja, tempo contado e marcado para entrar e sair de dentro da mina, sem tempo para experimentação ou ensaios. Sem treino.

Como o tempo era insuficiente para fazer fotos e videos, fizemos quase simultaneamente as duas coisas. Parecia loucura no começo mas foi a única solução. Entrei na catedral as 5 da tarde para reconhecer e conhecer pela primeira vez e saber qual seriam as dificuldades. Uma loucura, uma escuridão absurda e absoluta onde apenas a iluminação da catedral iluminava pontos especificos da Via Crucis.

A ação em sí começou as 8 da noite, onde teriamos que nos revezar com a equipe de video, composta por umas 8 pessoas, mais equipe de luz e produtores. Eu e o fotógrafo Andres Jaramillo nos revezamos em pontos recém escolhidos e por muitas vezes usamos a luzes continuas da equipe de video, pois os flashes, mesmo no mínimo, estava cegando os atletas e nós também.

Depois de algumas horas de ação com o Marcelo Gutierrez, excelente piloto de mountain bike downhill, o melhor latino da atualidade, decidi em abandonar meus flashes de vez pois não estava ficando satisfeito com o resultado, talvez tenha demorado para perceber isso, mas a excitação inicial não me deixar ver.

A primeira vez que olhei no relógio era quase 1 da manhã e ainda não estávamos na metade no nosso trajeto e então começamos a ser mais práticos e diretos, descartando pontos alguns pontos que havia dúvida. Era quase 3 da manhã quando o cansaço bateu de verdade. Virei duas latas de Red Bull de uma vez só e duas garrafas de água, mesmo assim tinha sede.

Na hora do cansaço, cama salgada

Não fazia frio e muito menos calor nos túneis de mina salgada. A temperatura era agradável mas aquela quantidade de sal em volta nos desidratava de uma maneira incrível. Perguntei sobre isso para um dos guias que nos acompanhava e ele me deu uma aula. A melhor parte dela foi em saber que nenhum inseto ou animal resiste a aqueles quilômetros de túneis encravados na terra, o sal torna tudo aquilo num ambiente estéril, menos mal.

Enquanto conversava com o guia ele segurava um equipamento na mão e obviamente perguntei do que se tratava. Nada menos que um medidor de oxigênio, se não bastava estar a 2650 metros de altitude em solo colombiano, o nível de oxigênio nos tuneis era muito baixo, no limite do mínimo recomendável. E por isso as visitas e quantidade de gente são controladas. Bom para nós que em 15 pessoas não acabariamos com o oxigênio do lugar, mas a cada 30 minutos o equipamento era ligado.

Papo bom, mas até então não havia ido ao banheiro e depois do litro de água e as latas a vontade bateu. É expressamente proibido urinar nos túneis (óbvio!!) e o único banheiro ficava no final de um túnel. Eu fui. Andei 15 minutos em passos largos até o banheiro, cruzando outros tuneis menos e galerias gigantes. Talvez tenha sido o caminho para um banheiro mais longo e macabro da minha vida, onde não havia som, luz e nada. Apenas a luz do celular iluminava meu caminho e apesar de ter bateria rezava para todos os santos para aquilo não parar de funcionar.

túnel sem medo

Num ponto da volta eu corri após ter certeza que ouvi vozes. Corri de medo mas o fôlego (falta de..) daquela altitude não me ajudou e em menos de 1 minuto já estava com o coração na boca. Segui semi-firme e semi-forte, andando e me recuperando, mas não olhei para trás e muito menos para os túneis secundários. Uffa...cheguei onde o pessoal estava, era o fim do meu cagaço.

Logicamente fui perguntar para meu amigão da máquina de oxigênio sobre barulhos nos túneis e me arrependi. É claro que tem mil histórias e entre elas a lenda que as pessoas ouvem os mineiros que morreram no auge da exploração. Xó urucubaca....sal nele...

Queria me dar asas e sair voando de lá, mas ao mesmo tempo aquele lugar era sagrado e belo. Voltei a me conscentrar no trabalho para esquecer minha última meia hora.

Vista parcial da nave central

Estávamos cansado e quando um trabalhava o outros descançavam, encostei numa parede e percebi uma grade no chão, me arrastei até ele para ver o que era e ligava a outro tunel abaixo. Pensei que seria uma boa foto, e foi. Consegui registrar a bike passando por aquela grade, apesar da dificuldade em disparar naquelas condições.

tudo o que é ângulo

O final de nosso trabalho culminou na nave central com uma grande cruz ao fundo. Ela é linda com uma iluminação toda azul, com detalhes que impressionam. Ia existir um video de making of, de como foi feito e como trabalhamos mas o cidadão que faria esse trabalho simplesmente não apareceu e eu não tive tempo para fazer fotos extras.

Era hora de voltar à superfície e o cansaço bateu de vez quando avistamos a luz do sol. Era 6h30 da manhã, fazia 5 graus e mesmo com jaquetas estavamos congelando. O desgaste imenso e a virada de noite pegaram forte. Aproveitamos ainda com uma linda manhã para fazer algumas fotos fora da catedral mas não durou por muito tempo, até o experiente e preparado atleta estava esgotado.

Antes de dormir, quase as 10 da manhã, olhei no meu relógio e eu havia consumido praticamente 2000 calorias, ficado de pé 16 horas e andado 13,80 quilômetros. E há quem diga que é só apertar um botão, foda....Mais um número interessante para quem entende de fotografia, as fotos foram feitas com ISO 10000.

joinha!

Em breve vou publicar um album das fotos que não foram publicadas!

Obrigado pela leitura!

Para você que veio pelo menos até o fim, mas pode não ter lido tudo por pura preguiça aí vai um vídeo curto (10s) de celular roubado de lá.

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FABIOPIVA

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